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29/09/2012

Conhecendo pessoas por dedução


 É importante conhecer pessoas, aumentar seu círculo social. Gosto e costumo fazer muito isso. Ás vezes, no entanto, nem chego a conhecê-la. Simplesmente deduzo qual seu nome, sua idade, o que gosta de fazer, qual sua opinião em relação ao aborto, e quando foi a última vez que deu uma cagada. Coisas do gênero. E acho que é mais prático assim. Quais seus traumas, quais seus objetivos na vida, se eu já a vi em algum outro lugar, se eu conheço alguém que conhece alguém que conhece ela.

E eu fico pensando quais são as particularidades de cada um. Numa fila de banco, por exemplo, ou em um ônibus, ou num restaurante. Sei que seria mais lógico perguntar, na provável hipótese da pessoa responder, ou se eu me tornasse amigo íntimo dela para saber. Mas não tomaria essa iniciativa só pra esse propósito.

Somos todos assim, todos temos nossas particularidades. Em São Paulo, em multidões, ás vezes eu fico divagando sobre essas pessoas. Como elas devem ser, individualmente, o que fazem quando estão sozinhas no quarto, ou o que pensam quando acordam, penso em algo inusitado que apenas ela possui, seja uma característica física ou pessoal. Também penso como devem ser coletivamente. O que têm em comum. E concluo que todas essas pessoas da multidão cagam. A maioria delas com frequência diária. Isso é muito perturbador pra mim. Um volume inacabável de detritos enchendo sem parar esse planeta. Como é que a Terra não virou uma total esfera fedorenta de gás fecal ainda?

Voltando ao tema. Adoro conhecer pessoas por dedução. Não faço isso sempre, é algo mais inconsciente. Passo por um desconhecido. Presumo que ele seja Eduardo, 43 anos, já matou um policial e hoje é cameraman de filmes pornôs. Um transeunte atravessa a rua, analiso-o e deduzo que joga Ragnarok, secretamente escuta One Direction e mija sentado. Na esquina, uma mulher. Priscila, 27 anos, fez faculdade de Administração. Não tem patrimônio pra administrar. Trabalha como secretária e espera um dia em poder pagar a sua tão sonhada cirurgia de mudança de sexo. Tem dois filhos adotivos. Um tem 13 anos, é ambientalista, vegan, petista, nacionalista e femininista. O outro tem 10, e não consegue decorar a tabuada do 2.

 Na fila da padaria, o que aguarda a sua vez na frente de mim se chama Murilo, tem um caroço no testículo esquerdo, sofre de hemorroida e já participou de uma orgia de drag queens. O que está atrás de mim na fila se chama Hugo, tem 25 anos, mora sozinho com seu ursinho de pelúcia imaginário e construiu um jardim nos fundos só pra plantar maconha. O padeiro se chama André, tem 40 anos. Foi pego pelos pais injetando heroína pelo reto e hoje faz serviços comunitários todo final de semana. Encontro com mais com um desconhecido. Pedro, 32 anos, gente finíssima. Já esfaqueou sua empregada enquanto brincava de Rambo, e sua namorada o abandonou após tê-lo flagrado se masturbando com os vegetais que ela havia comprado para fazer o jantar. Por fim, chego em casa, após conhecer inúmeros desconhecidos.

E assim vou conhecendo as pessoas. Na minha dedução. Faz bem pra imaginação. É um de meus devaneios. Além do clássico joguinho de não pisar nas linhas dos pisos.