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29/01/2013

Estamos sempre perto da morte

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Estamos sempre tão perto da morte. E ela está sempre perto de nós. Apenas esperando o momento preciso para carregar nossas almas para o submundo dominado pela obscuridão e não-existência. Apenas mais alguns centímetros. Um passo em falso na ponta de um penhasco que, em apenas mais alguns centímetros, ocasionaria uma queda brusca metros abaixo, e consequentemente, o óbito. Mas não ocorreu. Apenas mais alguns segundos. Um transeunte, antes parado na calçada, começa a caminhar e que, em apenas mais alguns segundos, seria atingido por um carro desgovernado. Mas não foi.

Estamos sempre tão perto da morte. O teto pode desabar repentinamente sobre você, seu corpo ou algo perto de você pode entrar em combustão instantânea, algo pode explodir e ser arremessado diretamente em seu rosto. Você pode ser picado por alguma aranha venenosa mortal, seu coração pode parar de palpitar mesmo você sendo fisicamente saudável e insuficiência cardíaca ser um acontecimento improvável na sua idade. Tudo e mais um pouco pode acontecer, mesmo sob as menores e mais inverossímeis probabilidades.

Estamos sempre tão perto da morte. Poderia ser qualquer dia, qualquer ocasião. Atravessar a avenida, atravessar uma ponte de madeira, tomar uma ducha, tomar uma bebida, dirigir uma moto, voar de avião…

Atravesso uma rua sem olhar para ambos os lados. Cuidado, um desconhecido berra. Agilidosamente, pelo susto, regrido dando um ou dois pulos, enquanto o veículo passa pelo meu lado, buzinando, ainda na mesma velocidade. Aparentemente o motorista não se importaria em parar. Me alivio, foi só um susto. Ainda estou vivo. Apenas mais uns segundos. Apenas mais alguns centímetros. Se a pessoa não tivesse me alertado, poderia ter sido atropelado, arremessado alguns poucos metros, mas ficaria bem. Ou bateria a cabeça no chão, mas também ficaria bem, apenas um pouco atordoado e com dores. Ou seria atingindo violentamente pelo automóvel, sendo levado para o hospital. Mas com sorte, liberado em 1 ou dois dias. Ou o carro fatalmente me atropelaria, me arremessaria alguns metros no chão, eu bateria a cabeça, seria levado para o hospital, e pereceria devido a traumatismo craniano, falência múltipla dos órgãos e perda excessiva de sangue. Mas me alivio, foi só um susto.

Foi o dia em que estive próximo da morte. Assim como todos os outros, apenas de diferentes maneiras.

A morte estará sempre perto da gente. E estaremos sempre perto da morte. E um dia, ela se aproximará demais. Atrás, na frente, dos lados, ou em cima. Pode ser você, ele, aquele, eu. Qualquer um pode ser a morte, apenas esperando a sua hora de agir. Aguardando o momento para estar perto demais e me levar.

18/01/2013

Um conto erótico nada excitante

Juraci já derretia em suor naquela calorosa tarde, sentada sobre a sua cadeira de balanço, coçando suas varizes e cutucando com os dedos sua unha encravada no dedão. Em frente a sua casa, parou um caminhão de carga, e dele desceu o motorista Regimar, vestindo uma excitante camiseta xadrez vermelha exalando a cachaça, reluzindo todo o seu libidinoso sobrepeso em direção aos olhos de Juraci, com seu semblante de surpresa, atraída por aquela formosura de caminhoneiro.

Ele dirigiu-se até a traseira do veículo e descarregou algo grande e empacotado. Juraci esperava sexymente na cadeira, que rugia alto e rasgado a cada movimento, devido a vasta massa gordurosa dela e seu par de mamas suspensas que sofreram o efeito gravitacional com o tempo. Regimar se aproxima da casa, com uma entrega pesada. Juraci fica estupefata com a forma que ele carrega a aparentemente pesada encomenda de forma tão habilidosa.

Mal ele chegou ao portão da residência e Juraci já abrira a porta, com seu olhar cansado de flerte e seu sorriso marcado que destacavam suas profundas rugas de sua pele ancestral. "Entrega para Juraci Meira", anunciou Regimar. Sua voz rouca resultado de anos de inalação de nicotina, pronunciando essa frase, foi o suficiente para ceder Juraci em tesão. Como era uma entrega de grande porte, Regimar tratou de carregar a caixa até a sala de estar, onde lá a desempacotou. Tratava-se de uma nova poltrona, encomendado pelo marido de Juraci.

Com a nova poltrona, ela estava decidida a testar a qualidade do produto ali mesmo, na hora. Empurrou o apetitoso Regimar no estofado e começou a lentamente despir-se em frente a ele, tirando com dificuldade sua camisola, atolada em seu corpo roliço. Em seus tenros 50 anos, ela estaria convicta de que, com seus dois filhos não morando mais em casa, ele e seu marido reviveriam suas vidas sexuais. Mas não foi assim. Seu marido já não tinha o mesmo apetite sexual de outrora. Já estava velho e gordo. E Juraci, mesmo estando na mesma situação, nunca parou de ter aquele incessante tesão e excitação que ainda encharcava a sua preciosa vulva, escondida e revestida por camadas adiposas e pelos pubianos presentes ali há mais de quatro anos.

Regimar, espantado, levantou-se e decidiu ir embora, todavia foi interrompido por Juraci. "Vamos fazer isso, aqui e agora". Necessitada disso, ela queria acabar com aquilo ali, naquele momento, naquele local. Não aguentava mais a carência sexual. E Regimar também não. Afinal, na sua 4ª década de existência, sua vida sexual também não ia nada bem. Subitamente, subiu-lhe a cabeça um tesão incontrolável, uma forte vontade de fazer o que há muito não fazia.

Dominados por volúpia, rapidamente os dois se despiram, exalando os odores de transpiração que os encharcavam e que os deixavam grudentos. Possessos por saciarem seus desejos carnais, os dois se agarraram com todas as forças que seus músculos decadentes revestidos de gordura podiam prover. Suas enormes protuberâncias na área da barriga lhes dificultaram a penetração, mas eles chegaram lá. E foi intenso como nunca. As pernas peludas e salientes de Juraci se entrelaçavam nas costas enrugadas de Regimar, enquanto ele, concentrando-se em ser preciso, tentava encaixar sua genitália naquela confusão de peles extras sobrepondo a vagina de Juraci.

Se envolveram em uma imparável troca de fluídos corporais, com beijos babados e gritos berrantes de prazer. Deleitosa, Juraci se entregava àquela espaçosa barriga de Regimar que, junto com a extensa camada adiposa dela, faziam os dois ficarem 1 metro separados do rosto um do outro, sendo impossível fisicamente se beijarem e alcançarem penetração ao mesmo tempo.

Após longos minutos de dificultosos movimentos pélvicos para prosseguir com a transa, Regimar finalmente terminara o ato. Se despedira rapidamente e, sem acreditar, voltou ao seu caminhão, enquanto deixara Juraci sorrindo a toa.

Ela estava maravilhada, nunca experimentara uma aventura tão fascinante quanto aquela. Aquele dia certamente para ela foi memorável, e reacendeu ainda mais as suas chamas de desejo sexual, que recuperara totalmente o seu anseio de viver, e a faria sorrir por anos. Isso, é claro, se não estivesse grávida e fosse parir um filho bastardo.

Enquanto isso, Regimar lembrava com um sorriso na face deste dia tão insano e especial, enquanto observava os pontos amarelos em seu membro reprodutor recém-surgidos. Essa experiência alimentaria a sua sede por masturbação por meses. Isso, é claro, se ele não estivesse contraído algum tipo de infecção aguda necrosante e tivesse que amputar sua genital em breve.

15/01/2013

O ceifador


 Maíra acordara cedo naquela manhã de Domingo. Era a voz serena de Izrael, seu irmão caçula de 6 anos, sutilmente se aproximando de sua cama, que a desperta. Não era apenas mais um sonho, era de fato ele. A garotinha ruiva de 9 anos já expressava um contagiante sorriso e euforia. Há muito que os dois não se viam. A última vez que se encontraram foi há um bom tempo, em um bonito e grande campo, com gramas aparadas, flores em abundância, além de placas de pedras estranhas por todos os lados, fixadas em pé sobre a terra. Maíra não entendia bem o que aquilo era.

 E era para esse campo onde Izrael iria levá-la. "Por que vamos pra lá?". Seu irmão retruca "Porque é lá onde estou morando agora". Finalmente iriam brincar, ser irmãos juntos novamente e matarem a saudade, assim pensava Maíra. Era um grande presente de aniversário pra ela.

 Os pais de garota não estavam de acordo em deixá-la ir para aquele local. Rejeitaram tal ideia após Maíra perguntar pela permissão deles. O pai temia que isso já começasse a ser sinal de insanidade. Diante da rejeição deles Izrael prontamente acalmou seus pais. Como ainda eram sete da manhã de Domingo, ambos os pais tinham acabado de acordar. Izrael gentilmente os colocou para dormir. Por um bom tempo. Sem que eles o vissem, claro. Não queria causar nenhum choque após tanto tempo se verem. Maíra não entendeu o que acontecera, mas seu irmão o assegurou que eles se reencontrariam. Em breve.

 Acompanhada por seu irmão, Maíra foi guiada por ele até o campo. Enquanto andavam, Maíra se dirigia a ele de forma contagiante. "Sabia que eu sonho direto com você, irmãozinho?" "Eu sei". To tão feliz de te ver de novo, Izrael, dizia Maíra. Ele retrucava de forma pouco amistosa. "Por que estamos indo praquele parque?". "Não é um parque, é um lugar pras pessoas descansarem e terem paz", explica o irmão. Ainda não estava claro para ela, mas estava contente e animada. Estava matando a saudade. "Você fará 10 anos amanhã, certo?". Sim, responde Maíra. Ótimo, ainda há tempo, dizia ele para si mesmo.

 A caminhada debaixo do banho de sol daquela manhã de céu limpo não impediu os dois de chegarem ao local, com pedras cravadas em pé por todo o lugar. Maíra ainda não saiba muito bem o que estaria fazendo lá. Izrael mandou-a deitar. "Vamos descansar um pouco aqui". Descansar? Maíra pensara que iam brincar. Relutante, ela se levanta, mas ele a derruba com hostilidade. "Descanse!", ele ordena. Maíra fecha os olhos, amedrontada. "E agora?", pergunta Maíra. Antes que pudesse esperar por uma resposta, a garota ruiva sente uma agonizante dor no peito, arregalando os olhos e berrando em sofrimento. Sua visão turva vê Izrael, com um sorriso maléfico, cravando uma faca com marcas de sangue nela.

 "Eu estava com saudades, então vim te buscar, irmãzinha" dizia enquanto ela adentrava o outro lado. "E desculpa pela faca suja, eu não tive tempo de limpar após colocar seus pais pra dormir também. Bem vinda ao meu lado, Maíra, agora vamos ficar juntos! Você, eu, a mãe e o pai!" Assim discursava Izrael. Ele se levanta, após ter cumprido o seu objetivo. Em um dia em que não se foi morta apenas a saudade, ele segue rumo de volta á sua pedra, onde esculpida nela dizia a frase "Que descanse em paz eternamente no reinado de Deus, Izrael."