Você acorda. Almoço em família. Pais, irmão e tios que moram no outro bairro. Você não sabe qual bairro, mas sabe que seu tio insiste em fazer as mesmas piadas dos Três Patetas. Sua tia ainda não perde a oportunidade de lhe dar o beijo do satanás ao chegar, e te humilhar perante sua família com apenas três palavras durante o almoço:
"E as namoradas?"
Seu tio, com os mesmos bordões, as mesmas histórias, as mesmas piadas que irei dispensar repeti-las aqui. Mas enfim... você sobreviveu ao almoço. Seus tios foram embora logo após algumas discussões relevantes sobre o episódio anterior da novela.
Hora da janta. Você dirige-se á cozinha, curioso, quer saber á todo momento o que há pra saborear da tão sábia cozinheira sua mãe. A pergunta o que há para deliciar durante o Jornal Nacional:
"O que tem pra janta?"
Tudo o que você mais quer é que sua querida progenitora lhe responda adequadamente, sem nenhum tipo de sarcasmo, humor negro ou ironia; e sim de uma forma que possa tanto lhe agradar quanto te decepcionar, dependendo do que sua responsável lhe preparou para comer assistindo a novela das nove. Contudo, é impossível. Ela não titubeia. Indispensável para sua mãe. Ela não se contenta em responder adequadamente. Ela é obrigada á te responder com o pior sarcasmo já herdado desde o homem das cavernas:
"Churiço com abobrinha"
Mais tarde; hora de dormir. Você escova os dentes. Dá boa noite à sua mãe. Se dirige ao seu pai:
"Tchau, pai."
Seu pai não hesita. Sem nenhum pudor, ele não se conteve:
"Vai pra onde?"
Enquanto seus pais habitarem o globo terrestre, isso permanecerá pela sua vida. Ou você pode morrer antes.