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12/11/2018

Transcritos aleatórios 5

O Brasil lidera o assassinato de ativistas ambientais, carentes de apoio popular e político, que ficam às margens de um intenso lobby do agronegócio, afrouxando a legislação sobre agrotóxicos, desmatamento ilegal, mineração, pesca e caça em áreas protegidas, extinção de reservas ambientais; além das ameaças de Bolsonaro ao Ibama e ICMBio por serem apenas uma "indústria da multa", da hostilização de terra indígena, e da saída do Acordo de Paris e da fusão (até agora ideias que foram abandonadas) do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura. Ministérios esses que um será comandado por um réu por improbidade administrativa e o outro por uma deputada apelidada de "Musa do Veneno", que juntos fazem a alegria de ruralistas.

Uma agenda ambiental, que use a ciência e a tecnologia para práticas mais sustentáveis, precisa ser prioritária em um planeta que já sofre significativos efeitos do aquecimento global, com o incentivo à agrossilvicultura, corredores ecológicos, OGMs, ampliação da matriz energética solar e das áreas de proteção ambiental, redução dos subsídios à combustíveis fósseis, entre outras. Não é só questão de proteger o meio ambiente. É benéfico para o comércio, desenvolvimento industrial, saúde, turismo, emprego, bem estar.

O desmatamento da Amazônia se aproxima do irreversível na recuperação do seu bioma, com impactos catastróficos não só na biodiversidade, mas também na agricultura e economia do país, que entrariam em colapso. A floresta é a principal responsável pelo ciclo hidrológico de São Paulo, e seu clima extremo, a falta de chuvas e a seca das represas são consequências importantes da destruição da floresta amazônica, e se ela não existisse a cidade inteira estaria hoje sob um deserto.

Mas isso tudo não interessa em nada ao novo governo, que tem como chanceler um lunático que acredita que tudo isso não passa de dogmatismo. Essa é uma bela receita rumo à um desastre ecológico e econômico. O Brasil pode sofrer secas severas, impactos desastrosos no meio ambiente, sanções internacionais para a exportação de seus commodities, e assim o comércio nacional desabar e todo o país sofrer uma enorme crise.

Tem certeza que não vamos virar uma Venezuela? Se você votou nesse novo governo, é melhor já ir cobrando seu candidato a abraçar pautas ambientalistas e de desenvolvimento sustentável.

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Uma sociedade cientificamente letrada se demonstra mais urgente do que nunca quando se presencia uma era da "informação" tão catastrófica em termos de credibilidade e qualidade. A facilidade e rapidez da comunicação exacerbou suas piores facetas, hoje dominada por debates supérfluos, fake news, manipulações, agressões verbais ou físicas, sensacionalismos e bolhas sociais, sendo estes os sintomas da falência educacional de um povo crédulo, analfabeto científico e desprovido de criticismo. Um instinto primitivo e irracional apossou-se desse país.

Ciência não é só remédios, dinossauros, drogas, bombas, planetas, lei da gravidade e foguetes espaciais. É também uma mentalidade a ser empregada, uma perspectiva filosófica de vida. Aplicar o método científico é saber identificar os maus argumentos e os bons, de ficar atento ás falácias, vieses cognitivos, falhas de raciocínio, do agir por impulso e emoção, de reconhecer que nosso cérebro primata é falho e pode sempre ser enganado. Aplicar o método científico diariamente é carregar consigo uma tocha de ceticismo, uma postura racional, crítica e intelectual, mas também humilde, em reconhecer não ter certeza quando não se tem, de assumir a própria ignorância, de estar sempre disposto a pesquisar mais através de fontes confiáveis, e também de estar a par de sua própria falibilidade e sugestionabilidade, da tentação ao auto engano, de aceitar qualquer coisa como verdade porque quer acreditar, de reconhecer e rejeitar pseudociência, notícias falsas ou tendenciosas, conspirações, ciências questionáveis e superstições. De condenar picaretas e charlatões que tentam nos enganar com terapias alternativas ou teorias mirabolantes supostamente irrefutáveis. De enxergar a vida de forma secular, sem apelo ao desconhecido e ao irracionalismo. De não relativizar o conhecimento cientificamente embasado, criando seus próprios fatos à maneira que bem entender.

O método científico não é dogmático, e pode ser falível, mas está sempre se questionando, observando e aceitando, aprimorando e corrigindo novas ideias conforme o acúmulo de evidências e argumentos bons e aceitáveis que a suportem. O que pode ser afirmado sem evidência pode ser rejeitado sem evidência, e o que se afirma ser "além da capacidade de verificação pela ciência" também podem ser no mínimo questionável ou descartado.