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08/02/2018

Transcritos aleatórios 2

 Eu não acho que a falta de significado seja desalentadora ou aterrorizante como muitos acreditam. O que é o significado? Temos esse desejo impulsivo de atrelar razão à tudo, dar ao universo e à nossa existência um significado especial, como se fôssemos dignos de tal. Eu não vejo como isso pode ser mais ilusório.

 Eu acho muito mais atraente o fato de sermos o resultado de um processo aleatório e fortuito de milhões de anos, que nos trouxe até aqui por meio da pura sorte. Isso assusta os mais crédulos, os crentes, pois os joga para um vazio onde não há um conforto emocional de acreditar que fazem parte de algo maior, de que tudo acontece por um motivo. Ser fruto de uma lenta evolução de milhões de anos, sem um criador superpoderoso? Nós nos recusamos em aceitar essa perspectiva, é absolutamente horrenda. Mesmo para os mais céticos, a princípio essa ideia também o é.

 Mas, abandonando a superstição e o pensamento místico, aceitar a nossa existência como um mero acaso, desprovido de significado especial no contexto do cosmos, é um ato de extrema humildade, grandeza e transformação. É como ir para um retiro espiritual no meio da floresta e se deparar com uma realidade que, longe de qualquer crença ou dogma, acalenta e engrandece a mente com uma perspectiva estarrecedora.

 É surpreendente e encantador poder enxergar o nosso parentesco evolutivo com todos os seres vivos do planeta, vislumbrar o panorama do universo e os átomos que de dentro das estrelas nos originam, aceitar a nossa profunda conexão com o cosmos e, ainda sim, sem precisar recorrer á qualquer tipo de busca de significado especial para a nossa existência que fuja da conexão com a realidade. Essa, pra mim, é uma perspectiva muito mais fascinante e prazerosa.

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 Eu me pergunto o que será desse blog quando eu morrer. Será que meus parentes o lerão com um misto de vergonha, risadas e encantamento? Se estão chorando: me desculpa. Eu sei que muitos dos textos aqui são apenas vergonhosos pra cacete. E olha que eu apaguei muitos deles. Esse blog é como um diário online, um registro de ideias que qualquer um pode ler. Será que ele servirá como recordação à minha vida, à minha personalidade? E se eles estiverem lendo isso exatamente quando eu já estiver morto? Estarão chorando, rindo, os dois? É certamente uma ideia interessante.

 Eu tenho muitas ideias interessantes. Eu só tenho preguiça de desenvolvê-las. Por exemplo: uma vez pensei num filme que se chamasse "A Volta Dos Que Foram Mas Não Voltaram". Sobre o que é? Eu não faço a menor ideia! Espero que eu consiga desenvolver o enredo antes de morrer.