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08/04/2012

O homem perfeito

 Glauco queria ser o homem perfeito. Perfeito em todos os sentidos. Intelectualmente, espiritualmente, cognitivamente, esteticamente, e até mesmo emocionalmente. E ele se dedicava muito pra tal.

 Todas as manhãs ele acordava ás oito horas em ponto, deliciava-se com um belo café da manhã equilibrado, caminhava no parque enquanto escutava músicas eruditas no fone de ouvido, subia a serra mais alta daquela área verde e lia. Pegava seu livro e se entretinha durante horas, recostado e seguro sob a silhueta de uma árvore qualquer. Aproximadamente as onze horas e meia seguia rumo á academia. Malhava e se exercitava incansavelmente. Não tinha pretensões de ficar muito musculoso, embora se preocupasse com a estética. A saúde era primária. Por fim, Glauco ia até seu terapeuta. Trabalhava sua capacidade de comunicação, e, principalmente, suas faculdades emocionais e psicológicas, afim de sentir bem consigo mesmo. Afinal, ele queria ser perfeito. Não fazia isso por ninguém. Fazia como evolução de si mesmo, e pra si mesmo. Seus desejos não seriam parados ou pausados por nada e ninguém.

O pessimismo alheio não iria atrapalhar seu maior objetivo. Sua meta primária não podia ser interrompida. E realmente Glauco estava cumprindo tudo isso muito satisfatoriamente bem. Exceto de que havia uma pequena barreira. Não apenas uma, milhares delas. Ele já se dedicara há muito tempo, mas não conseguira resultados extasiantes até então. Estava ocorrendo justamente o contrário. Ele estava retrocedendo, ficando cada vez menos imperfeito a cada dia.

 Encontrava-se numa encruzilhada, em um beco sem saída, um círculo incompleto. Seu psicológico, seu cognitivo, intelecto e espírito o impediam. Porque ele era inseguro, com baixa auto-estima e complexo de inferioridade. Não conseguia se tornar o homem perfeito sem conseguir passar por cima disso. E não conseguia passar por cima disso pelo seu atrapalhado funcionamento cognitivo que o impedia de falar, se expressar e relatar linearmente seus pensamentos para o terapeuta. E não conseguia se expressar porque não tinha controle sobre suas emoções e sentimentos. E não tinha controle sobre suas emoções e sentimentos porque era espiritualmente desequilibrado. E era espiritualmente desequilibrado porque era inseguro, com baixa auto-estima e complexo de inferioridade.

 E embora ele tenha procurado suporte profissional - e embora também fosse psicologicamente perturbado - era orgulhoso e pessimista demais para mudar. Embora, novamente, se dedicasse para se tornar um homem perfeito. Mas não iria conseguir. E nunca conseguiria, e nunca conseguiu. Tudo porque Glauco era um perfeito bosta.