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20/03/2011

Desmotivado

 Um dilema que todo escritor enfrenta. Principalmente escritores descompromissados, que escrevem apenas por prazer. É temporário, mas é extremamente perturbador. O escritor desmotivado se sente perdido, no fim de uma linha que declina para o abismo; um túnel sem iluminação, finalizado por um muro de tijolos.

 O escritor desmotivado decide que é hora de ligar, voluntariamente, o seu cérebro, colocar-lo á funcionar á qualquer custo. Já que não redige bons contos, crônicas, romances, roteiros - ou quaisquer sejam os tipos de narrativas, prosas ou poesias que ele opta por escrever - há um bom tempo, o escritor decide sair pela manhã, em busca de inspiração.

 Decide ir primeiro à padaria, buscar alguns pães franceses recém-assados. O padeiro o atende de forma simpática, sorridente e atencioso. Inesperadamente, surge os primeiros rascunhos geniais de uma crônica que há tempos não surgia em sua mente. Ele julga-a espetacular. Ele não pode perdê-la. Assim que chega da padaria, o café-da-manhã é descartável no momento.

 Senta-se em frente ao computador, começa á escrever. Relê o primeiro parágrafo. Uma surpresa vem seguida de uma pequena decepção. Ele se depara que seu texto não ficou tão bom e que, no final das contas, a idéia não era tão boa assim. Julgou-a precipitadamente, e decide descartá-la.

 Ele retorna ao seu café-da-manhã. No mesmo dia, algumas horas mais tarde, o escritor decide ir ao parque, apenas para passear, e com intenção de novas idéias, mas como um objetivo secundário. Em meio á caminhadas, á observações contínuas sobre as árvores, arbustos e das demais pessoas que frequentam o local, seu raciocínio é interrompido por um sorveteiro á procura de clientes em meio ao clima fresco do dia. Geralmente, escritor é uma pessoa calada, observadora e fria, porém este é simpático quando quer, e um companheiro muito agradável. Quando menos esperava, estava sendo incrivelmente simpático com toda o sorveteiro, que por ora, esbanjava alegria com toda o seu modo extrovertido de ser.

 E mais uma vez, um rascunho genial se passa pela sua mente. Ele volta para casa, aquele picolé era inútil. Enquanto lapidava as frases em sua cabeça, o mundo não interessava mais lá fora, e seu caminho para casa era traçado automaticamente pelas suas pernas. Ele chega, sente em frente ao computador. Começa mais uma vez o processo de escrita. E novamente vem o sentimento de decepção. Não é uma boa idéia. Isso o desmotiva ainda mais. Não interessa o quanto ele tente reescrever. O seus pensamentos tomado pelo sentimento de desmotivação não o fazem colher bons frutos.

 E esse ciclo vicioso continua, cedo ou tarde. Não há como evitar. Faz parte. Mas é uma merda.