
Estamos sempre tão perto da morte. E ela está sempre perto de nós. Apenas esperando o momento preciso para carregar nossas almas para o submundo dominado pela obscuridão e não-existência. Apenas mais alguns centímetros. Um passo em falso na ponta de um penhasco que, em apenas mais alguns centímetros, ocasionaria uma queda brusca metros abaixo, e consequentemente, o óbito. Mas não ocorreu. Apenas mais alguns segundos. Um transeunte, antes parado na calçada, começa a caminhar e que, em apenas mais alguns segundos, seria atingido por um carro desgovernado. Mas não foi.
Estamos sempre tão perto da morte. O teto pode desabar repentinamente sobre você, seu corpo ou algo perto de você pode entrar em combustão instantânea, algo pode explodir e ser arremessado diretamente em seu rosto. Você pode ser picado por alguma aranha venenosa mortal, seu coração pode parar de palpitar mesmo você sendo fisicamente saudável e insuficiência cardíaca ser um acontecimento improvável na sua idade. Tudo e mais um pouco pode acontecer, mesmo sob as menores e mais inverossímeis probabilidades.
Estamos sempre tão perto da morte. Poderia ser qualquer dia, qualquer ocasião. Atravessar a avenida, atravessar uma ponte de madeira, tomar uma ducha, tomar uma bebida, dirigir uma moto, voar de avião…
Atravesso uma rua sem olhar para ambos os lados. Cuidado, um desconhecido berra. Agilidosamente, pelo susto, regrido dando um ou dois pulos, enquanto o veículo passa pelo meu lado, buzinando, ainda na mesma velocidade. Aparentemente o motorista não se importaria em parar. Me alivio, foi só um susto. Ainda estou vivo. Apenas mais uns segundos. Apenas mais alguns centímetros. Se a pessoa não tivesse me alertado, poderia ter sido atropelado, arremessado alguns poucos metros, mas ficaria bem. Ou bateria a cabeça no chão, mas também ficaria bem, apenas um pouco atordoado e com dores. Ou seria atingindo violentamente pelo automóvel, sendo levado para o hospital. Mas com sorte, liberado em 1 ou dois dias. Ou o carro fatalmente me atropelaria, me arremessaria alguns metros no chão, eu bateria a cabeça, seria levado para o hospital, e pereceria devido a traumatismo craniano, falência múltipla dos órgãos e perda excessiva de sangue. Mas me alivio, foi só um susto.
Foi o dia em que estive próximo da morte. Assim como todos os outros, apenas de diferentes maneiras.
A morte estará sempre perto da gente. E estaremos sempre perto da morte. E um dia, ela se aproximará demais. Atrás, na frente, dos lados, ou em cima. Pode ser você, ele, aquele, eu. Qualquer um pode ser a morte, apenas esperando a sua hora de agir. Aguardando o momento para estar perto demais e me levar.